As pimentas são amplamente valorizadas na culinária mundial para temperar alimentos. Na indústria, são largamente utilizados os seus pigmentos, aromas e substâncias pungentes. Elas são ricas em vitaminas, flavonóides, carotenos e outros metabólitos secundários com propriedades antioxidantes, que reduzem o risco de desenvolvimento de câncer e de outras doenças crônico-degenerativas.
Mas a pungência ou ardume (sabor picante) é o seu atributo mais atrativo.
No Brasil são conhecidas mais de duas dezenas de espécies de pimenta do gênero Capsicum, mas pouco se conhece ainda sobre a composição das pimentas brasileiras, embora grande avanço tenha sido obtido nos últimos anos.
Apesar de apreciadas por boa parte da população mundial, são pequenas as quantidades consumidas de pimentas na dieta alimentar. No entanto, o aumento do consumo de pimentas do gênero Capsicum poderia contribuir para a alimentação humana como fontes importantes de vitaminas, fibras, sais minerais e antioxidantes. Altas concentrações desses componentes são encontradas em vários tipos de pimentas e de pimentão, hortaliça pertencente ao mesmo gênero Capsicum (Tabelas 1 e 2).
Muitas variedades de pimenta produzidas no Brasil possuem alto valor nutricional e poucas calorias (Tabela 2).
Apenas 100 gramas de pimenta levemente picante ou doce – a pimenta-biquinho é um excelente exemplo – contêm 99 miligramas de vitamina C, mais que a necessidade diária de um indivíduo. E cerca de meia colher de sopa de pimenta vermelha desidratada em pó poderia suprir a necessidade humana diária de vitamina A, que é de 600 microgramas.
Composição
Os componentes químicos das pimentas e do pimentão podem ser divididos em dois grupos. O primeiro determina o seu uso como condimento, por conferir sabor específico, cor e aroma.
Este grupo compreende a capsaicina e seus análogos estruturais (capsaicinóides), os carotenóides, os polifenóis e vários componentes voláteis (especialmente as pirazinas) e ácidos orgânicos. O segundo grupo engloba componentes de valor nutricional, como carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas, fibras e sais minerais.
Tabela 1. Vitaminas e carotenos presentes em 100 gramas de pimenta e de pimentão frescos.
Os nutrientes, proteínas, carboidratos, lipídios, sais minerais, vitaminas, fibras e água, quando em proporções adequadas na dieta, asseguram a manutenção das funções vitais do organismo humano, suprindo as suas necessidades de produção de energia, de elaboração e manutenção tecidual e de equilíbrio biológico. Todos esses componentes são encontrados nos frutos de Capsicum em quantidades variáveis, em função da espécie, da cultivar, das condições de cultivo e da maturação dos frutos (Tabela 2). Variações também podem ocorrer com o manuseio pós-colheita e o armazenamento.
Os carboidratos são componentes predominantes nos frutos de Capsicum, sendo a frutose o principal açúcar.Frutose e glicose perfazem juntas cerca de 70% dos açúcares redutores. Os açúcares totais e redutores estão em níveis máximos em pimentas suculentas e vermelhas.
À semelhança de outras hortaliças, são reduzidos os teores de proteínas e lipídios em polpas de pimenta. Todas as variedades contêm pouca caloria; as pimentas maduras possuem entre 22 kcal e 105 kcal por 100 gramas de parte comestível.
– Vitaminas
As vitaminas C e E possuem propriedades antioxidantes e estão presentes em altas concentrações em vários tipos de pimentas.
O conteúdo de ácido ascórbico (Vitamina C) encontrado em pimentas brasileiras varia de 52 mg/100g a 134 mg/100g de fruto fresco (Tabela 2). A quantidade aumenta durante o amadurecimento dos frutos. O ácido ascórbico é um composto solúvel na água, que desaparece em frutos desidratados; no cozimento, a perda é de cerca de 60%.
Existem pimentas brasileiras suaves e doces com altos teores de vitamina C, ou seja, com alta qualidade do ponto de vista nutricional (Tabela 2).
A ingestão recomendada de vitamina C para suprir as necessidades diárias de um indivíduo é de 60 mg ao dia, quantidade que pode ser obtida com o consumo de 100 gramas de pimentas suaves ou doces.
Pimentas e pimentões também são frutos ricos em tocoferóis, fonte de vitamina E. O pó dos frutos vermelhos e secos de pimentas ou pimentões contém níveis de alfatocoferol comparáveis aos encontrados em espinafre e aspargo e quatro vezes maiores do que os do tomate. O conteúdo do alfatocoferol varia de acordo com a cultivar e o estádio de maturação.
Um fruto fresco de pimenta vermelha de 100 gramas poderá suprir 5% da necessidade diária de vitamina E de um indivíduo adulto, que é de 8 mg a 10 mg.
– Carotenóides e provitamina A
As cores diversas e brilhantes dos frutos de pimentas, variando do amareloclaro ao vermelho-intenso, originam-se de pigmentos carotenóides, que, pelo seu valor nutricional, estão entre os mais
importantes pigmentos vegetais. Em frutos de pimenta foram identificados mais de trinta pigmentos diferentes, e a atividade antioxidante desses pigmentos tem sido intensivamente investigada nos últimos anos. (O colorido das pimentas atrai pássaros, que delas se alimentam e dispersam as sementes.)
Porque concentram altas quantidades de carotenóides, as pimentas e os pimentões são amplamente usados como corantes naturais, na forma de extratos concentrados (oleorresinas) e de pó (colorau ou páprica). A cor vermelha é atribuída aos carotenóides capsantina e capsorubina. A capsantina, principal carotenóide em frutos maduros, contribui com 60% dos carotenóides totais. A quantidade de carotenóides nos tecidos dosfrutos depende de fatores como cultivar, estádio de maturação e cultivo.
As pimentas contêm as provitaminas alfacaroteno, betacaroteno, gama-caroteno e a betacriptoxantina, que são transformadas no fígado humano em vitamina A. Betacaroteno é a forma mais abundante de provitamina A; a sua molécula pode ser dividida para formar duas moléculas de retinol, que é a forma fisiologicamente ativa de vitamina A.
Depois da deficiência de energia total e de proteínas, a deficiência de vitamina A é um dos principais problemas da alimentação mundial. Estudos epidemiológicos indicam que maiores ingestões de carotenos ou provitamina A podem reduzir o risco de desenvolvimento de câncer e de cegueira noturna (redução da acuidade visual).
– Capsaicinóides
A principal característica dos frutos de pimenta é a pungência, conferida por alcalóides denominados capsaicinóides, análogos à capsaicina, exclusividade do gênero Capsicum. A palavra “pungência” geralmente é empregada para designar sabor picante, quente, ardente ou condimentado.
Os princípios pungentes são produzidos em glândulas que se localizam (aproximadamente 90%) na placenta dos frutos (ver capítulo 3).
As sementes não são fonte da pungência, mas ocasionalmente absorvem capsaicina por causa da proximidade da placenta. Dos catorze estimados capsaicinóides identificados, os que ocorrem em maior quantidade são: a capsaicina, a dihidrocapsaicina e a nordihidrocapsaicina. Seus teores variam com a época do ano, com a maturidade dos frutos e com o ambiente da região de cultivo. No entanto, os maiores determinantes do nível de pungência são as espécies e as cultivares, que existem em grande número e que têm sido mantidas em coleções de germoplasma.
O nível de pungência é expresso por uma escala de análise sensorial conhecida como SHU (de Scoville Heat Units ou Unidades de Calor Scoville, em homenagem ao seu idealizador, Wilbur Scoville – ver capítulo 3), cujos valores variam de zero (pimentão e pimentas doces) a mais de 300 mil SHU (pimentas muito picantes). Essa escala é mais empregada por fabricantes de molhos de pimentas comerciais e de pápricapicante.
De acordo com os níveis de pungência, as pimentas são destinadas à produção de diferentes produtos, tais como: molhos, conservas, pimenta desidratada em pó e oleorresinas. Diferentes nichos de produtos e tipos de pimenta são encontrados no Brasil: pimenta malagueta (CE, MG), pimenta-de-cheiro,pimenta-de-bode e pimenta cumarido- Pará (GO, PA, RR, RO, AM), para conservas e molhos líquidos; pimenta doce (MG, BA e PE), para páprica; pimenta jalapeño (SP, MG e GO), para molhos líquidos; pimenta dedo-de-moça e pimenta chifre-de-veado (RS, SP), para a produção de pimenta desidratada tipo calabresa.
Na tabela 3 são apresentados os níveis de pungência de alguns tipos de pimenta da coleção da Embrapa Hortaliças, conhecidos por grande parte dos consumidores brasileiros.
A espécie C. chinense destaca-se por abranger pimentas suaves e doces, como a pimenta-de-cheiro e a biquinho, e também as recordistas brasileiras em pungência, a pimenta-murupi e a pimenta cumari-do-Pará.
Embora condimentos mais picantes como as pimentas sejam popularmente considerados agressivos ao trato gastrointestinal e a outras funções orgânicas, não há registros de alta incidência de úlceras e disfunções hepáticas entre consumidores de pimentas de países como a Tailândia e a Coréia, onde é tradicional o consumo de pimentas com altosteores de capsaicinóides.
– Fibras
Os frutos de Capsicum são fontes importantes de fibra alimentar (4 g/100g a 16 g/100g), elemento essencial no processo de digestão, que previne problemas intestinais e reduz o risco de desenvolvimento de divertículos e de câncer do intestino grosso. A tabela 4 exibe valores de fibra alimentar e de calorias para frutas e cereais comumente consumidos, comparativamente a pimentas. A pele ou a casca de pimentas e de pimentões contém cerca de 77% de fibras solúveis e 80% das fibras totais do fruto. Essa quantidade de fibra é maiordo que a do arroz e da aveia.
– Sais minerais
A maior parte do conteúdo de cinzas totais de pimentas e pimentões é solúvel em água, o que indica ser uma fonte de minerais. Os minerais são nutrientes indispensáveis ao organismo humano, onde desempenham funções as mais variadas em diferentes formas e concentrações, o que contribui para o equilíbrio dos processos bioquímicos do organismo.
O consumo de 100 gramas de pimenta levemente picante ou doce pode fornecer quantidades substanciais de potássio (7%), magnésio (6%), ferro (3%), cálcio e fósforo (2%), quando comparadas às doses diárias recomendadas para consumo.
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