A cebola é relativamente sensível à acidez dos solos, desenvolvendo-se melhor em pH (em água) de 6,0 a 6,5 e de, no máximo, 5% de saturação por Al³+. Dessa forma, a calagem é fundamental nos solos brasileiros, em sua maioria ácidos e com teores elevados de alumínio trocável.
Cálculo de necessidade de calagem:
A quantidade de calcário a ser adicionado ao solo é calculada com base na análise de solo, podendo-se utilizar um dos métodos a seguir:
A. Método da elevação da porcentagem de saturação por bases
t.ha-¹ de calcário = (V2 - V1).T/PRNT, em que:
V2 = 70% (saturação por bases desejada); V1 = saturação por bases atual (análise de solo) = [(Ca²+ + Mg²+ + K+).100]/T;
T = capacidade de troca catiônica [Ca²+ + Mg²+ + K+ + (H + Al)], em cmolc.dm-³;
PRNT = poder relativo de neutralização total do calcário a ser aplicado.
B. Método da neutralização do Al³+ e fornecimento de Ca²+ + Mg²+
t.ha-¹ de calcário = Y.[Al³+ - (mt.t/100)] + [X-(Ca²+ + Mg²+)].100/PRNT, em que:
X = exigência em cálcio e magnésio pela cultura (para cebola X = 3,0);
mt = máxima saturação por alumínio tolerada pela cultura (para cebola mt = 5,0);
Y = fator que varia com a capacidade tampão de acidez do solo podendo ser definido de acordo com a textura. Para solos arenosos (0 a 15% de argila); textura média (16 a 35% de argila); argilosos (36 a 60 de argila); muito argilosos (61 a 100 de argila), usa-se valores de Y de 0 a 1,0; 1,0 a 2,0; 2,0 a 3,0 e de 3,0 a 4,0, respectivamente.
C. Método SMP
Este método, utilizado nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, baseia-se no índice SMP para a recomendação de calagem. Para o cultivo da cebola, uma vez determinado o índice SMP na análise de solo, obtém-se a quantidade de calcário a ser aplicada para elevar o pH do solo a 6,0 mediante o uso da Tabela 1.
Tabela 1. Quantidade de calcário (PRNT 100%) com base no ínidice SMP, visando a atingir o pH 6,0 em água, para correção da acidez dos solos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Fonte: COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC. Manual de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto Alegre: SBCS-NRS/EMBRAPA-CNPT, 2004. 400 p.
Adubação
Sistema Convencional
Os solos brasileiros são em sua maioria naturalmente ácidos e pouco férteis, apresentando restrições ao desenvolvimento da cebola. Além dessa acidez natural, o cultivo do solo promove uma acidificação contínua pelo uso de determinados adubos.
Portanto, o uso de corretivos da acidez e de adubos é de grande importância para a produção. Convêm enfatizar que o tipo e a quantidade de calcário e adubos devem ser definidos com base na análise de solo da área que se vai cultivar.
Como principais neutralizantes de acidez têm-se os calcários (carbonatos de cálcio e de magnésio); a cal virgem (óxidos de cálcio e de magnésio); e a cal hidratada (hidróxidos de cálcio e de magnésio).
Dentre os calcários, o dolomítico é o mais adequado para a maioria dos solos por conter maior quantidade de magnésio (> 12% de MgO). O calcário magnesiano apresenta 5 a 12% e o calcítico menos de 5% de MgO. É importante atentar para a relação entre o cálcio e o magnésio no solo que deve ser de aproximadamente 3 a 4:1 mol (Ca:Mg).
No caso de se usar o calcítico faz-se necessário complementar a adubação com sulfato, carbonato ou óxido de magnésio. Além da neutralização da acidez do solo, a calagem supre o cálcio e o magnésio necessários à nutrição da planta. Os demais nutrientes serão fornecidos como adubos minerais e/ou orgânicos no plantio e em cobertura.
Na maioria das vezes, o fósforo, enxofre e os micronutrientes são aplicados de uma única vez e de forma localizada, no plantio. Já o nitrogênio e o potássio são aplicados no plantio e em cobertura, parcelados, na forma sólida ou juntamente com a água de irrigação, em fertirrigação.
Sistema Orgânico
Em sistemas orgânicos de produção, fazer adubações com a mesma quantidade e frequência do sistema convencional pode não apresentar os resultados esperados, pois algumas fontes orgânicas apresentam liberação lenta de nutrientes para as plantas e estes nutrientes estão ligados a moléculas complexas, dependendo de processos bioquímicos para se tornarem disponíveis.
Em solos de primeiro ano, dependendo da análise do solo, além da calagem é bastante comum realizar fosfatagem utilizando os fosfatos naturais visando criar uma reserva de fósforo no solo que será disponibilizada lentamente ao longo dos sucessivos cultivos.
Adubação de plantio
A aplicação do adubo orgânico pode ser feita a lanço, distribuída em toda a área antes do encanteiramento, utilizando o equivalente a 10 t.ha-1 de composto orgânico em termos de massa seca. Como alternativa pode ser utilizada a mesma quantidade de composto de farelos ou de esterco de curral curtido, ou ainda a metade de esterco de aves. Além do adubo orgânico, uma vez constatado teores baixos de fósforo na análise de solo, deve-se aplicar de 100 a 200 g.m-2 de termofosfato no plantio.
O cálculo das dosagens de adubos orgânicos para o plantio pode ser feito também levando-se em consideração a análise do solo, a composição química do adubo e a exigência da cultura. Como exemplo, considere o plantio de um hectare de cebola em que pela análise de solo se recomende aplicar 120 kg de N, 180 kg de K2O e 300 kg de P2O5 e têm-se disponíveis os adubos orgânicos com suas respectivas composições químicas (% na matéria seca) e fatores de conversão (fc) apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Adubos orgânicos, composições químicas (% na matéria seca) e fatores de conversão (fc).
¹fc-100/%MS
Fonte: SOUZA, J.L de; RESENDE, P. Manual de Horticultura Orgânica. 2a. Ed. atualizada - Viçosa: Ampliada Aprenda Fácil, 2006. 843 p.
Esterco bovino necessário:
N = kg.ha-1 de N recomendado pela análise de solo x fc para N = 120 x 20 = 2.400 kg.ha-1 de esterco bovino que fornece também:
P = kg.ha-1 de esterco bovino: fc para P = 2.400/40 = 60 kg.ha-1;
K = kg.ha-1 de esterco bovino: fc para K = 2.400/20 = 120 kg.ha-1.
Para completar o K, vamos usar cinzas como adubo:
K = (kg.ha-1 de K recomendado - kg.ha-1 de K fornecido pelo esterco bovino) x fc para K = (180 - 120) x 10 = 600 kg.ha-1 de cinzas que fornece também:
P = kg.ha-1 de cinzas: fc para P = 600/40 = 15 kg.ha-1.
Para completar o P, vamos usar o fosfato natural:
P = (kg.ha-1 de P recomendado - kg.ha-1 de P fornecido pelo esterco bovino - kg.ha-1 de P fornecido pelas cinzas) x fc para P = (300 – 60 -15) x 3,3 = 742 kg.ha-1 de fosfato natural.
Portanto, para atender as recomendações indicadas pela análise de solo neste exemplo, para o plantio de um hectare de cebola devemos aplicar uma mistura contendo 2.400 kg de esterco bovino, 600 kg de cinzas e 742 kg de fosfato natural.
Estes cálculos levam em consideração apenas a constituição química dos adubos, sendo que os aspectos físicos e biológicos do solo, muito importantes nos sistemas de produção orgânicos, não são considerados. Portanto, as quantidades recomendadas no exemplo acima podem ser aumentadas considerando as características climáticas e de solo de cada região.
Adubação em cobertura
As adubações de cobertura são feitas, dependendo da necessidade da cultura, aos 30 e/ou 60 dias após o transplante. A adubação pode ser feita com 5 t.ha-1 de composto orgânico (massa seca) ou 3 t.ha-1 de composto de farelos (bokashi) ou aplicação de 0,4 L.m-2 de extrato de composto (composto orgânico:água, relação em volume de 1:3) ou de biofertilizantes líquidos.
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