Adubação
As quantidades de corretivos e fertilizantes a serem aplicadas devem ser adequadas a fim de permitir o bom crescimento e desenvolvimento da batata. Doses abaixo do necessário limitam o desenvolvimento da planta. Por outro lado, o excesso pode ocasionar o desenvolvimento anormal da planta, seja devido à toxidez, salinidade, inibição da absorção de determinado nutriente pela presença excessiva de outro, ou mesmo crescimento excessivo das hastes, quando se aplica muito N, por exemplo.
Exigências nutricionais
O conhecimento das quantidades de nutrientes extraídos do solo pela cultura da batata é de suma importância para o manejo adequado da adubação.
A batateira é uma planta de crescimento/desenvolvimento rápido e bastante exigente em nutrientes. Dependendo do nível de produtividade, as quantidades de nutrientes extraídas e exportadas podem variar, embora não haja, necessariamente, uma relação direta entre esses fatores, pois podem existir diferenças na eficiência de utilização dos nutrientes por influência de outros fatores tais como cultivar, teor de água no solo, solo, clima, espaçamento e sanidade. As quantidades aproximadas de nutrientes necessárias para a batata encontram-se na Tabela 1.
Aproximadamente 78% do fósforo (P), 68% do potássio (K), 65% do nitrogênio (N), 65% do enxofre (S), 33% do magnésio (Mg) e 9% do cálcio (Ca) absorvidos pela batateira são acumulados nos tubérculos. Quanto aos micronutrientes, cerca de 49% do cobre (Cu), 45% do boro (B) e 41% do zinco (Zn) absorvidos pela cultura ao longo do ciclo são acumulados nos tubérculos, enquanto a absorção de ferro (Fe) e manganês (Mn) representa 20% e 11%, respectivamente, do total absorvido pela planta de batata.
O momento adequado da aplicação, bem como a época e dose de cada nutriente também é importante para o equilíbrio nutricional da planta para a obtenção de elevada produtividade. Considerando um ciclo de 90 a 110 dias, a absorção máxima de N, P, Ca, Mg e S ocorre na fase inicial de enchimento dos tubérculos (45 a 70 dias após o plantio - DAP). Já o K tem sua absorção mais concentrada entre 40 e 60 DAP. A fase de maior demanda por B ocorre logo após o início da formação de tubérculos, entre 35 e 50 DAP, enquanto a maior exigência por Fe e Mn inicia-se a partir dos 45 DAP e vai até 65 DAP. O Cu e o Zn são absorvidos em maiores proporções na segunda metade do ciclo da cultura.
Existe uma época crítica em que a cultura da batata necessita de praticamente todos os nutrientes disponíveis em quantidades relativamente altas, que vai desde o início da formação dos tubérculos, três a quatro semanas após a emergência, até próximo ao final do ciclo. A fase de enchimento de tubérculos é uma fase crítica em que a disponibilidade de nutrientes e de água no solo deve ser elevada, pois, nesse período, a acumulação de matéria seca e a absorção de nutrientes são muito rápidas. A análise de tecidos vegetais, realizada em laboratório, é um meio eficiente de monitorar o estado nutricional das plantas e, também, ajuda a calibrar as necessidades de fertilizantes na cultura da batata. Por meio dela, deficiências potenciais podem ser detectadas cedo o suficiente para o tratamento dos distúrbios nutricionais durante a estação de crescimento.
Quase todas as partes da planta de batata têm sido utilizadas para avaliar o estado nutricional, tais como: folíolos, pecíolos, folhas, caules, raízes e tubérculos. O pecíolo tem sido um dos órgãos mais utilizado, embora ele não seja o mais adequado para todos os nutrientes e em todas as situações. Pecíolos são, muitas vezes, mais sensíveis a mudanças na concentração de macronutrientes do solo, enquanto lâminas foliares são mais sensíveis às diferenças nos níveis de micronutrientes. Verifica-se que, de modo geral, o estado nutricional das plantas é melhor refletido pela quantificação dos teores dos nutrientes nas folhas do que em outras partes ou órgãos.
Para interpretação dos resultados das análises das partes da planta, podem-se utilizar diversos critérios, como: nível crítico, faixa de suficiência, etc. Porém, no Brasil, a interpretação pelo critério da faixa de suficiência dos nutrientes nas folhas, utilizando tabelas, ainda é o método mais difundido. Como a concentração dos nutrientes varia de acordo com o órgão da planta amostrado e a época de amostragem, estes aspectos devem ser considerados por ocasião da definição da referência para fins de comparação (Tabela 2).
No Estado de São Paulo, para monitoramento do estado nutricional da batata, recomenda-se amostrar a terceira folha a partir do tufo apical de 30 plantas aos 30 dias após a emergência (DAE). Já em Minas Gerais, tem-se utilizado a quarta folha a partir do ápice, coletada próxima à época de realização da amontoa.
Sintomas de deficiência
A deficiência de nutrientes provoca alterações que podem ser visíveis em vários órgãos das plantas, conforme se segue:
Nitrogênio: clorose principalmente das folhas mais velhas, plantas pouco vigorosas, com crescimento lento, hastes finas, internódios curtos e folhas eretas, além de produzirem tubérculos pequenos e em menor quantidade; quando a deficiência de N é severa, pode haver manchas necróticas e abscisão de folhas. Em solos arenosos e pobres em matéria orgânica, que não receberam adubação nitrogenada, a deficiência de N é mais marcante.
Fósforo: os folíolos não se expandem, enrugam-se, ficam verde-escuros, sem brilho e curvam-se para cima; as folhas inferiores podem apresentar cor púrpura na parte abaxial; as raízes e os estolões são reduzidos em número e em comprimento, e a produção de tubérculos é reduzida.
Potássio: plantas deficientes são pequenas e compactas; a folhagem tem aparência murcha em razão de as folhas se arquearem para baixo; sob condições de deficiência severa, as margens e os ápices das folhas mais velhas tornam-se inicialmente amareladas, adquirem coloração amarronzada e, posteriormente, tornam-se necrosadas, sendo comum o aparecimento de inúmeras manchas pretas pequenas entre as nervuras nas margens dos folíolos.
Cálcio: os sintomas aparecem primeiramente nas folhas mais jovens, que ficam menores e enrugadas, o crescimento da planta é reduzido, com caules e folíolos finos, e, em condições severas, pode haver morte da gema apical e necrose nos ápices dos brotos dos tubérculos; quando a deficiência ocorre em estádio mais avançado, há o desenvolvimento de pontos mortos (coração negro), devido à baixa mobilização de Ca para os tubérculos.
Magnésio: há amarelecimento entre as nervuras foliares, seguido de necroses de coloração marrom, principalmente nas folhas mais velhas, que permanecem com as margens verdes; as folhas tornam-se ainda enroladas para cima, além de ficarem grossas e quebradiças.
Enxofre: as folhas mais novas ficam cloróticas e com lento crescimento, mas geralmente não secam, como acontece na deficiência de N.
Boro: os sintomas são primeiramente visualizados nas partes mais novas da planta; pode haver morte dos brotos principais, maior brotação lateral e desenvolvimento de muitas hastes, o que leva à produção de tubérculos menores; os folíolos se enrolam a semelhança ao sintoma de viroses. As folhas são mais grossas e os internódios mais curtos. Nos tubérculos, pode haver atraso na brotação, baixa conservação, rachaduras internas e coração oco.
Cobre: os sintomas de carência ocorrem inicialmente nas folhas mais novas, que se tornam pouco túrgidas, podendo até mesmo, em casos graves, secar.
Ferro: clorose internerval nas folhas jovens, enquanto as nervuras permanecem verdes. Posteriormente, podem aparecer lesões necróticas nas folhas.
Manganês: os sintomas são observados em folhas jovens, que apresentam clorose internerval e com aparecimento de pontuações pequenas e redondas de cor marrom ou preta. Essas pontuações ocorrem em grupos perto da nervura central em direção à área basal dos folíolos, sendo que os pecíolos, geralmente, permanecem verdes e sem sintomas; entretanto, o excesso de Mn é mais comum, causando lesões necróticas irregulares nas folhas e no caule.
Molibdênio: as plantas ficam cloróticas, raquíticas e, com o passar do tempo, podem ficar com folhas pardacentas e ocorrer morte dos bordos.
Zinco: as margens dos folíolos ficam voltadas para cima, as folhas ficam menores, os internódios mais curtos e, por consequência, a planta tem seu crescimento reduzido.
Adubação mineral
A dose de adubação nitrogenada depende da época de plantio, devendo-se aplicar menores doses sob temperatura mais elevada. A resposta à adubação também é influenciada por outros fatores, sobretudo, cultivar e tubérculo-semente, de modo que cultivares de ciclo curto, menos vigorosas e tubérculos-semente menores exigem maiores doses de N. O N tende a alongar o ciclo e aumentar o vigor vegetativo das plantas, podendo, quando em excesso, reduzir a produtividade e a qualidade dos tubérculos. O histórico cultural e a cultura precedente à da batata também influenciam a necessidade de N. No Brasil, encontram-se recomendações de adubação nitrogenada para a cultura da batata variando de 60 a 250 kg/ha de N.
Nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a estimativa da necessidade de aplicação de N é determinada em função do teor de matéria orgânica do solo (Tabela 3). No Estado de São Paulo, a recomendação varia de 80 a 160 kg/ha, dependendo da época de cultivo. Considerando que, em média, a percentagem de aproveitamento do N proveniente dos fertilizantes nitrogenados pelas plantas está em torno de 60% e as necessidades das principais cultivares de batata utilizadas atualmente, seria necessária a aplicação de aproximadamente 150 a 200 kg/ha de N para satisfazer as necessidades da cultura, na safra de inverno em sucessão a gramíneas.
Recomenda-se aplicar metade da dose total recomendada no sulco de plantio e metade em cobertura, antes da operação de amontoa. Entretanto, na ausência de informações científicas, recomenda-se, como orientação geral, que não é aconselhável aplicar menos que 40 kg/ha e nem mais que 100 kg/ha de N no sulco de plantio. Quando o agricultor optar pelo parcelamento da adubação nitrogenada, o que é recomendável, sobretudo, na época das águas e em solos arenosos, o adubo nitrogenado deve ser aplicado de tal forma que um filete contínuo seja distribuído alguns centímetros ao lado da fileira de plantas, sobre o solo. A incorporação deve ser feita em seguida, promovida pela operação de amontoa. Em cultivares utilizadas para a industrialização e com ciclo mais longo, a aplicação de N em períodos após a amontoa pode ser benéfica, já que favorece a manutenção de área foliar fotossintetizante e o enchimento dos tubérculos por um maior tempo.
A disponibilidade de P no solo interfere fortemente na resposta da batateira à adubação fosfatada. Assim, no Estado de São Paulo (Tabela 4) e Cerrado brasileiro (Tabela 5) a recomendação varia de acordo com o teor de P disponível no solo.
A batata responde bem à aplicação de P, desde pequenas doses (50 kg/ha) em solos com elevada disponibilidade deste nutriente. Porém, destaca-se que, em solo com teores baixos de P disponível pode haver resposta até as doses maiores (450-500 kg/ha).
Devido a sua alta taxa de fixação no solo e sua baixa difusão, toda a dose recomendada, geralmente, é aplicada no sulco de plantio. Porém, em solos muito pobres em P, a fosfatagem em área total com termofosfato e a posterior aplicação localizada de P solúvel no sulco de plantio pode gerar maiores produtividades.
O K é o nutriente exigido em maiores quantidades pela cultura da batata (Tabela 1). Assim, quando o teor de K trocável no solo é baixo altas doses são necessárias para se obter elevadas produtividades, podendo chegar a 350 kg/ha, como pode ser observado nas Tabelas 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Por outro lado, em solo com elevada disponibilidade de K, pode não haver resposta da cultura da batata a adubação potássica, podendo ser feita apenas a aplicação de uma dose de reposição.
A aplicação do K é, geralmente, feita por ocasião do plantio. Deve-se misturar bem o adubo com o solo para evitar problemas com injúrias devido à salinização, especialmente porque na cultura da batata podem ser utilizadas elevadas doses de fertilizantes. Quando se utiliza doses muito elevadas, entretanto, a retirada de parte do fertilizante potássico do sulco de plantio é interessante, seja aplicando-se a lanço imediatamente antes ou após o plantio, ou por ocasião da amontoa, junto com o N. Quando o plantio for efetuado em época chuvosa, o parcelamento da adubação potássica no plantio e em cobertura pode proporcionar menores perdas e favorecer o desenvolvimento das plantas e a produção de tubérculos.
Quanto ao S, dificilmente ocorrerá carência enquanto forem aplicadas fórmulas NPK que incluam superfosfato simples. Também o uso de sulfato de amônio em cobertura é outra garantia de fornecimento adequado de S para a batateira, pois as quantidades de S extraídas pela cultura variam de 0,2 a 1,5 kg de S para cada tonelada de tubérculos produzidos (Tabela 1). Na impossibilidade de utilização de adubos contendo S, o nutriente pode ser fornecido pela utilização de gesso agrícola.
Para os micronutrientes Fe, Mn e Cu, não há relatos de deficiência na batateira, o que é resultado da alta disponibilidade, especialmente de Fe e Mn nos solos brasileiros. Além disso, como a batata, é normalmente cultivada em solos ligeiramente ácidos, situação em que a disponibilidade de micronutrientes catiônicos aumenta, não é comum ocorrer limitação à absorção desses micronutrientes. Defensivos utilizados na cultura da batata também podem minimizar o aparecimento de deficiência de micronutrientes, como Cu, Mn e Zn. Recomenda-se, para solos com baixos teores de B e Zn, principalmente naqueles com menor teor de matéria orgânica e mais arenosos, a adição de 1 a 2 kg/ha de B e 3 a 4 kg/ha de Zn.
Adubação orgânica
O principal benefício da adubação orgânica é a melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, auxiliando na ciclagem e disponibilização de nutrientes e no controle de doenças de solo. Além disso, a adição de compostos orgânicos ou o plantio de espécies de plantas em pré-cultivo de batata, sejam elas comerciais ou apenas como adubo verde, é recomendado, podendo com isso diminuir a quantidade de adubo mineral aplicado. Assim, sempre que disponível o uso de adubação orgânica em substituição à mineral, total ou parcialmente, é desejável, desde que economicamente viável.
São vários os produtos que podem ser utilizados, sendo que as quantidades a serem aplicadas devem ser compensadas, considerando-se os teores de nutrientes (Tabela 10) e os respectivos índices de conversão, ou seja, a disponibilização de nutrientes em função do tempo (decomposição e mineralização). Todo o K aplicado comporta-se como mineral, pois não participa de compostos orgânicos estáveis. Com relação ao P, 60% fica disponível no primeiro cultivo e 20% para o segundo. Para o N esta relação é de 50% e 20% para os dois primeiros cultivos, respectivamente. No terceiro cultivo a totalidade do N, P e K já se encontra mineralizada.
No caso do composto e estercos, deve-se ter cuidado para que estes estejam bem curtidos e sejam incorporados uniformemente no solo, evitando-se contato direto com os tubérculos-semente e para se obter maior aproveitamento do P e redução nas perdas de N por volatilização.
Quanto à adubação verde em pré-plantio de batata, deve-se selecionar as espécies a serem utilizadas de acordo com o ciclo vegetativo, quantidade de biomassa acumulada, facilidade de incorporação, tempo para decomposição e mineralização, suscetibilidade a doenças e relação C/N. Outro fator importante é o sincronismo entre a liberação do N do adubo verde e a demanda da cultura. As gramíneas apresentam maior relação C/N e podem ocasionar imobilização de parte do N do solo e/ou aplicado durante sua decomposição. Por outro lado, podem ser hospedeiras de doenças bacterianas e fúngicas que afetam a batata, mas podem ser hospedeiras de nematoides, especialmente do gênero Pratylenchus.
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