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domingo, 8 de agosto de 2021

PANCS: Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata)

 

Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata)

Do latim ‘‘ora pro nobis’’, “rogai por nós”, é uma das poucas cactáceas com folhas desenvolvidas. É planta perene, com características de trepadeira semiereta, mas pode crescer sem a presença de anteparo, com folhas suculentas lanceoladas. As flores são pequenas e brancas. Há espécies com flores rosadas. Os frutos são pequenas bagas espinhosas amarelas. No caule há a presença de acúleos (falsos espinhos), que, nos ramos mais velhos, crescem aglomerados. Existe uma variedade, na verdade outra espécie, a Pereskia grandifolia, comumente chamada de ora-pro-nóbis de árvore, que cresce como árvore de tronco lenhoso e robusto. Também é cultivada para fins de produção de mel por apicultores, pois apresenta floração rica em pólen e néctar.

Nomes comuns – Ora-pro-nóbis, lobrobro, lobrobó e pereskia.

Família botânica – Cactaceae.

Origem – É originária das Américas, onde se relata a presença nativa de plantas desde a Flórida até o Brasil.

Variedades – Não existe uma sistematização ou registro de variedades, havendo, porém, grande variabilidade, observando-se folhas mais ou menos coreáceas, arredondadas ou alongadas, mais ou menos pigmentadas, e plantas mais ou menos espinhosas, ocorrendo a seleção empírica de variedades locais.

FLORAÇÃO

Clima e solo – É planta rústica, muito resistente à seca, própria de clima tropical e subtropical. Devido à sua rusticidade, a planta adapta-se a diversos tipos de solo, sendo pouco exigente em fertilidade. Não tolera encharcamento, com senescência ou paralisação no desenvolvimento, devendo ser cultivada em solos bem drenados.

Preparo de solo – Recomenda-se o preparo localizado, manual, restrito às covas ou sulcos, mais comum quando se faz o plantio para cercas. Entretanto, pode-se efetuar o preparo em área total, no caso de lavouras maiores.

Calagem e adubação – É relativamente pouco exigente em fertilidade, mas produz melhor quando adubada. A calagem deve ser feita em função da análise de solo, aplicando calcário visando atingir pH entre 5,5 e 6,0. Para que haja elevada produção de folhas, é interessante que seja mantido bom nível de matéria orgânica no solo. A adubação orgânica pode ser feita com composto orgânico, na dosagem de até 3,0 kg/m2 de canteiro no plantio e, a cada corte, realiza-se uma adubação de cobertura com um terço desta dose. No caso de plantios maiores, visando colheita comercial, sugere-se seguir a recomendação para roseira, ou seja, de 100 a 300 kg/ha de P2O5 e de 80 a 240 kg/ha de K2O, devendo-se fornecer 40% do K e todo o fósforo no plantio. Em cobertura, recomenda-se a aplicação 60 dias após o transplantio de 40 kg/ha de N e, após cada corte, que costuma ser a cada 2 meses em períodos de pleno crescimento, 30 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O.

Plantio – A propagação da planta é vegetativa, feita pelo enraizamento de estacas de caule. O material proveniente da região intermediária do caule é o que apresenta melhor pegamento. As estacas devem ter de 20 a 30 cm de comprimento, dos quais cerca de 15 cm (parte basal) são enterrados em substrato. Para o preparo das mudas, pode-se usar composto orgânico ou substrato comercial, misturado a solo desinfestado na mesma proporção. As mudas serão transplantadas com cerca de 30 a 45 dias, após seu enraizamento. O espaçamento é variável dependendo da utilização, seja para produção de folhas ou para cerca viva. No caso de produção de folhas, pode-se utilizar o espaçamento de 1,0 a 1,3 m entre fileiras e 0,4 a 0,6 m entre plantas. Também se pode plantar em linhas duplas distantes 0,6 a 0,8 m entre si com 1,2 m entre as linhas duplas. No caso de cerca viva, trata-se de uma única linha, devendo-se dispor as plantas espaçadas de 1,0 a 1,5 m entre si.

É interessante que o plantio seja planejado para o início do período chuvoso, pois apesar da planta apresentar tolerância à seca, é importante que se tenha um aporte hídrico na fase inicial de desenvolvimento para o seu estabelecimento que, depois de plenamente enraizada, torna-se tolerante à seca.

Tratos culturais – Em períodos de seca, para que a planta continue produzindo é necessário irrigar, pelo menos, uma vez por semana. Mas cabe citar que já foi observada produção exuberante mesmo em regiões semiáridas do norte de Minas Gerais, sem irrigação por até 2 meses após o término das chuvas. Deve-se manter a cultura no limpo por meio de capinas. Outra prática recomendada, para manter a planta bem conduzida e para que tenha maior produção de folhas vistosas, é realizar podas periódicas (colheitas, na verdade), a intervalos de dois a três meses, mantendo-se a altura das plantas entre 1,0 m a 1,2 m. Durante o desenvolvimento da cultura pode ser verificada alguma desfolha causada por besouros (vaquinhas e idiamins). Em locais encharcados, pode haver podridão, que parece estar associada à falta de oxigênio para as raízes e não exatamente a patógenos, apesar de se observar posteriormente bactérias decompositoras

Colheita e pós-colheita – A colheita pode ser iniciada três meses após o plantio. A coleta das folhas é feita quando estas apresentam de 7 a 9 cm de comprimento. Pode-se fazer a colheita de duas formas, das folhas individualmente ou das hastes, efetuando-se a retirada das folhas à sombra. A colheita deve ser feita com o auxílio de luvas para evitar ferimentos nas mãos. Quando se colhem hastes, efetua-se o rebaixamento das plantas, deixando-as com cerca de 1,0 a 1,2m de altura, prática recomendada em alguns casos como o de plantios para produção comercial. A conservação das folhas da ora-pro -nóbis é relativamente boa, principalmente se forem embaladas em sacos plásticos e colocadas na geladeira, o que amplia em pelo menos cinco dias seu período de conservação. O rendimento da cultura varia de 2,5 a 5,0 ton/ha a cada corte, sendo comum três a quatro cortes por ano.

As folhas são utilizadas na colinária mineira, refogadas, em substituição a outras hortaliças folhosas, ou combinando o ora-pro-nóbis com aves, como o tradicional prato “frango com ora-pro-nóbis” servido pela gastronomia em cidades históricas mineiras como Tiradentes e Sabará, havendo nesta última o festival anual do ora-pro-nóbis. Destaca-se pelo paladar peculiar e único e por suas propriedades funcionais, particularmente rica em proteína, sendo conhecida como a “carne vegetal”.

FLOR

FRUTO

Ora-pro-nóbis, plantas em cerca viva e folhas

Ora-pro-nóbis comum e Ora-pro-nóbis de árvore