Alface (Lectuca Sativa L)
Com o avanço dos trabalhos de melhoramento no país foi possível o desenvolvimento de cultivares adaptadas ao calor e resistentes ao pendoamento precoce. Atualmente, é possível, a partir da escolha da cultivar adequada para cada época, colher alface de boa qualidade o ano todo, também em sistema orgânico de produção. Para cultivos em sistemas orgânicos deve-se escolher cultivares mais adaptadas às condições locais, rústicas, que possuam sistema radicular bem desenvolvido e com boa capacidade de exploração do solo e ainda maior nível de resistência ou tolerância a pragas e doenças. Nos trabalhos realizados na Embrapa Hortaliças, estão sendo avaliadas cultivares de alface dos três grupos (americana, crespa e lisa) em sistema orgânico de produção. Nestes ensaios procura-se incluir cultivares de alface atuais e também resgatar variedades antigas. Em termos de produtividade, destacaram-se a Robinson, Laurel e Madona AG.60 como mais produtivas dentre as cultivares de alface americana. No tipo crespa apresentaram melhor desempenho a Simpson, Mônica e Grand Rapids e do grupo Lisa tiveram destaque a Regina, Babá de Verão e a Aurélia.
A alface (Lactuca sativa L.), hortaliça folhosa de maior aceitação pelo consumidor brasileiro, pertence à família botânica das asteraceae, assim como o almeirão ou radiche e chicória. Esta hortaliça é boa fonte de vitaminas e sais minerais, destacando-se a vitamina A, indispensável para a saúde dos olhos, da pele e dos dentes. A alface é altamente perecível. Por este motivo é produzida nos cinturões verdes dos grandes centros consumidores, constituindo-se para muitos produtores ótima fonte de renda e retorno rápido do investimento.
Por ser consumida crua, na forma de salada e apresentar rápido ciclo vegetativo (30 a 45 dias), o cultivo orgânico (sem agroquímicos) de alface é essencial para garantir a saúde do agricultor, do consumidor e, também preservar o meio ambiente. Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, com 20 espécies de frutas e hortaliças em 26 estados no Brasil, revelou que, das 138 amostras coletadas de alface em 2009, nos maiores centros consumidores do país, 38,4% apresentaram resíduos de agrotóxicos, especialmente, os não autorizados para a cultura. Considerando que na alface, praticamente, não há problemas com pragas e doenças, estes resultados são muito preocupantes. Chama a atenção a quantidade de amostras contaminadas com metamidofós, que além de ser proibida em vários países, a substância está sendo reavaliada pela Anvisa, pois é um dos ingredientes ativos com alto grau de toxicidade aguda contribuindo para os problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer. Mas os riscos ao meio ambiente e ao consumidor que causa o sistema de produção convencional de alface, não param por aí! Os adubos químicos mais utilizados no cultivo de alface são hidrossolúveis (altamente solúveis em água), especialmente quando utilizados em excesso como os nitrogenados (uréia e outros) e, em condições de chuvas intensas e freqüentes, vão parar nos rios, córregos, lagos e poços, contaminando-os. Além disso, os adubos químicos podem contaminar a alface, provocando o acúmulo de nitratos e nitritos nos tecidos das plantas. O nitrato ingerido passa a corrente sanguínea e reduz-se a nitritos que, combinado com aminas, forma as nitrosaminas, substâncias cancerígenas e mutagênicas.
Recomendações técnicas
Escolha correta da área e análise do solo: áreas com boa drenagem e sem sombreamento, não cultivadas seguidamente com alface, almeirão e chicória. A análise do solo com antecedência é muito importante.
Épocas de plantio e cultivares: a alface é uma hortaliça tipicamente de inverno, mas foi adaptada para cultivo também no verão. Cultivo de outono/inverno - todas as cultivares, em geral, apresentam neste período bom desempenho. Cultivo de primavera/verão - é necessário utilizar cultivares adaptadas para produzir sob temperaturas elevadas. As cultivares indicadas para o outono/inverno florescem precocemente (pendoamento), se plantadas em clima quente, tornando o produto amargo e sem valor comercial. As principais cultivares recomendadas são: Cultivares lisas (grupo manteiga) - Brasil 303, Elisa, Glória, Aurora e Carolina AG 576 (formam cabeça/resistentes ao vírus do mosaico); Regina (Figura 1), Babá de Verão e Lívia (não formam cabeça/resistentes ao vírus do mosaico), dentre outras; Cultivares crespas (Figura 1) - Vanessa (não forma cabeça e é resistente ao vírus do mosaico); Verônica, Marisa AG 216 e Brisa (não formam cabeça e não são resistentes ao vírus do mosaico). Cultivares de folhas crocantes ou americana (possuem folhas grossas e formam cabeça) - Inajá, Mesa 659, Tainá, Lucy Brown e Raider.Resultados de pesquisa obtidos na Estação Experimental de Urussanga, com a cultivar Regina, revelaram que o cultivo orgânico de alface foi superior quanto a produtividade (41%) e qualidade das cabeças, quando comparado ao cultivo convencional.
Produção de mudas: fazer mudas sadias e vigorosas recomenda-se o uso de bandejas de isopor, utilizando-se substrato de boa qualidade, em abrigo protegido. Dormência das sementes :pode ocorrer quando a temperatura excede a 30ºC. Para evitar a dormência, recomenda-se baixar a temperatura do ambiente nas primeiras 24 horas, após a semeadura nas bandejas, com irrigação e o uso de sombrite.
Adubação de plantio: as hortaliças folhosas respondem bem à adubação orgânica que deve ser aplicada com base na análise do solo. Fonte de macro nutrientes (N.P.K, Ca e Mg) e micronutrientes, a adubação orgânica melhora a qualidade das hortaliças e a conservação do produto, além de manter a umidade do solo.
Adubação de fundação
Composto - 2 kg/m2 + Bokashi – 500gr/m2 +Se conseguir usar o fosfato usar 100gr/m2 + 100gr de cinza/m2.
Fazer a cobertura morta com material de bagana de carnaúba.
Cobertura:
Fazer uma cobertura com bokashi depois de 10 dias, 300gr/m2.
Aplicar semanal JK 20ml/20 lt + biofertilizante 1 lt/20 lt.
Aplicar a cada 7dias 1 lt de Bocashi foliar para 20 lt de água.
Fazer tratamento das mudas com biofertilizante 200 ml/20 lt.
Fazer aplicação semanal de óleo de nem a 0,3%.
Macerados que podem ser feitos para tratamento de plantas.
Transplante: o transplante das mudas (4 a 6 folhas) deve ser em canteiros, previamente preparados e adubados, na profundidade que estavam na bandeja, espaçadas de 25 a 30 cm entre plantas e fileiras.
Irrigação: a grande exigência da alface (93% do peso é água), aliado a baixa capacidade de extração de água do solo, torna pequenos períodos de estiagem em seca. Os sistemas de irrigação mais utilizados na alface são: aspersão convencional, micro aspersão e gotejamento. No verão deve-se irrigar pela manhã e no final da tarde. No inverno e no verão (desde que se utilize o sombrite), é suficiente uma irrigação pela manhã.
Cobertura morta: havendo disponibilidade na região de cultivo, recomenda-se o emprego de cobertura morta dos canteiros com palha ou casca de arroz ou outro material vegetal de textura fina.
Capinas e escarificarão do solo: durante o desenvolvimento das plantas, são necessárias uma a duas capinas, quando se aproveita para fazer também o afofamento do canteiro (sacarificação).
Cultivo protegido: melhora a produtividade e a qualidade da alface (folhas mais tenras e menos danificadas), além de melhorar a eficiência da mão-de-obra, quando são utilizados túneis altos. Em pleno verão o uso de sombrite (que deixa passar 30 a 50% de luz) protege as plantas nas horas mais quentes do dia e também de chuvas torrenciais (Figura 1). Nos períodos mais críticos, o manejo do sombrite, retirando-o no período mais fresco e, em dias nublados, é importante para atingir boa produtividade e qualidade do produto.
Manejo de doenças e pragas: no cultivo de alface, não há maiores problemas com pragas e doenças. Caso ocorra deve-se utilizar medidas preventivas.
Fase de produção de mudas - utilizar sempre sementes sadias em bandejas de isopor com substrato isento de doenças e, em abrigos protegidos.
Canteiro definitivo: eliminar plantas hospedeiras (caruru, picão-preto, beldroega, serralha, maria-pretinha) de insetos tais como tripes que transmitem viroses; utilizar cultivares resistentes às viroses; fazer rotação de culturas com hortaliças-raízes ou hortaliças-frutos; eliminar restos de culturas anteriores; revolver o solo bem fundo para expor os fungos e pragas do solo à radiação solar; adubar e irrigar as plantas corretamente e utilizar cultivo protegido.
Colheita, classificação e comercialização: Colheita: nas primeiras horas da manhã ou nas horas mais frescas, quando atingir o máximo de desenvolvimento, sem sinais de florescimento, normalmente a partir dos 30-45 dias após o transplante. Classificação: as folhas mais velhas, manchadas e danificadas são eliminadas, bem como as plantas consideradas refugos (miúdas, com início de florescimento e outros defeitos). As plantas devem ser embaladas em caixas, evitando-se o demasiado manuseio do produto. Comercialização: deve ser realizada o mais rapidamente possível e próximo ao local de produção, pois é um produto altamente perecível.